terça-feira, 12 de abril de 2011

Questões sobre Cidadania


Pensava eu no tema da próxima postagem aqui do Blog, quando me lembrei de um incidente recente.
Eu estava na padaria, quando me dei conta de um homem esbravejando no recinto. Tentei passar por ele incógnita com o leite nas mãos, mas foi em vão. Não havia por onde escapar, então tive que me pôr à escuta do motivo de tanta irritação.
A princípio fiquei feliz com o relato, não era então a descrição minuciosa sobre uma cirurgia de hemorroida, apêndice ou fimose, como sempre acontece comigo.
Acabei por escutar um monte de impropérios contra o governo, o Brasil e os brasileiros. Tive um revival ao me recordar que por toda parte escutamos este tipo de reclamações, como no banco, supermercado, farmácia, etc.
Enquanto eu escutava, o leite ia congelando meus dedos, o pão recém saído do forno queimando meus braços, as costas doendo de ficar em pé. Mas não há mesmo como fugir de um brasileiro revoltado.
A experiência revoltante do homem se resumia ao fato de ele ter parado em local proibido e ser multado. Ele afirmou que só ia comprar um remédio, demorou mais que o previsto sim, mas foi por que demoraram a atendê-lo. Contou que se ele tivesse visto o guarda, daria um jeito, mas como não viu...
Choveu, ficamos presos na padaria. A plateia fortaleceu a revolta do homem. Logo era cada um contando sua própria experiência e ao mesmo tempo. Todos já tinham sido lesados de alguma maneira. Os ânimos começaram a se exaltar.
Eu na porta rezava para a chuva diminuir, quando vi o iniciador da revolta ir embora. Foi todo senhor de si com o carro na contramão, numa rua extremamente movimentada.
Por que será que o brasileiro acha que as leis servem para todos os outros, menos para ele mesmo?
Será que nós exercemos nossa cidadania, tanto quanto reclamamos da falta de cidadania dos outros?
Sabemos dos nossos direitos, mas também nos damos conta de nossos deveres, ou sempre damos um jeitinho brasileiro em tudo que vai contra nossos interesses?
“ Nos países igualitários, não há nenhuma discussão: ou se pode fazer ou não se pode. No Brasil, porém, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”. Na forma clássica do “jeitinho” solicita-se precisamente isso: um jeitinho que possa conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitando, o funcionário autoridade e a lei universal...”
(Roberto da Matta, O que faz o Brasil, Brasil?)
Temos a chance de exercer a cidadania (direito e deveres) o dia todo, por toda parte. É uma escolha.
Você tem exercido a sua cidadania?